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Escrito por Arlindo Bellini

…Era domingo de mês… o antigo Largo da Matriz estava apinhado de famílias, jovens e crianças. Todos estavam passando mais uma noite agradável, ouvindo embevecidamente os acordes suaves da Banda Lira Itapirense. Os bancos de madeira e de cimento acomodavam muito bem casais de namorados, namoradinhos recém iniciados em conversações e trocas de abraços e promessas de futuros noivados com o correr dos anos. O céu mostrava um estrelado de faiscar na imaginação. A Lua prateada iluminava a terra, pois com a fraca iluminação reinante naquele logradouro de nossa cidade, sempre a iluminação da rainha da noite era bem vista.

O sino da velha Matriz da Penha badalava animadamente. Tinha terminada as orações noturnas com a Benção do Santíssimo Sacramento e reunião dominical da Congregação Mariana, protegida por Nossa Senhora do Patrocínio e São José. Os congregados saiam daquele templo e iam voltear ao redor do bonito quadrilátero bem ajardinado e cuidado pela nossa municipalidade. Era costume dos moços dar voltas ao contrário das moças, quando os encontros eram no mesmo lugar. Estavam flertando, na intuição de ‘arranjá’ namoradinha, dar início a um namorico, conversar, pedir para levar a mocinha para casa, naqueles bairros bem distantes da praça, como o Cubatão, Prados, Pires, Lavras, Vila Nova ou até o final da antiga rua do Amparo.

O Cine Paratodos estava na hora de iniciar a primeira sessão, das 7 horas da noite. Era um filme brasileiro, com Oscarito, Grande Otelo e Ankito. A fila para comprar os ingressos virava o bar Central, seguindo pela calçada da casa do casal dona Romilda e Alberto Baldassim. Todos queriam assistir o grande sucesso do cinema brasileiro. A entrada custava pouco dinheiro, comparando com o preço de um cartucho de pipocas do pipoqueiro Sillio Simionatto, que estacionava seu carrinho recheados de delícias como o amendoim torrado, cartuchinhos de paçoquinha. Comprava-se as guloseimas apenas com algumas moedinhas de cruzeiro e bem antes com mil réis.

Tocou a sirene do cinema. O filme ia começar. Muitos ficaram a ‘ver navios’, pois ‘seo’ Nenê Moraes deixou de vender ingressos, pois a grande sala de projeção já tinha sido lotada, bem como o camarote na parte superior. Até mesmo o famoso ‘galinheiro’ não acomodava mais expectadores. O remédio era assistir a segunda sessão ou só na segunda-feira quando haveria a reprise do filme, mas somente com uma sessão às 20 horas.

A   agitação no jardim não tinha parada, assim como a movimentação dos bares do Odilon de Castro e do Central, sem contar o Itapira Bar, que ficava na rua Conselheiro Dantas nº31. Aqueles bares famosos do coração da nossa cidade sempre tiveram suas freguesias, cada uma sabendo do que solicitar aos balconistas. Por exemplo no bar do Odilon, geralmente em noites de invernos rigorosos, o pedido era um Toddy bem quentinho e espumante, ou lanche feito no capricho, tanto pelo Moacir Donatti, como também pelo Lázaro Borson, ou Orlandinho Palandi. Já o Central primava na venda de bebidas, bem como servia a famosa e muito consumida Água Boa Vista, cuja distribuição estava a cargo do itapirense Alfredo Pierossi. Mas o bife a cavalo servido pelo Itapira Bar, dava água na boca de qualquer um, bem como o delicioso e espumante chope da Antárctica, tirando com colarinho pelo ‘seo’ Ricardo Baldassin ou seu sobrinho o Lindo do Bar. Aquele bar servia também para os encontros dos esportistas itapirenses, ainda mais quando ao término das partidas de futebol travadas no chico Vieira, ao lado da cadeia, fazia com que muitos se direcionassem ao Itapira Bar, tanto para beber e comer, bem como para os devidos comentários em torno do jogo da Esportiva contra o terrível adversário, o Mogi Mirim Esporte Clube, da vizinha cidade.

Impossível não buscar no passado distante a agitação em torno do Centro Comércio e Indústria e XV de Novembro, quando em dias de festas e bailes glamourosos eram realizados para animar seus associados. Mas aqueles Reinados de Momo do passado, jamais serão esquecidos, quando o Largo da Matriz se tornava acanhado para receber tanta gente, como os foliões e os blocos carnavalescos que eram formados prestimosamente, cada um procurando ser mais atraente do que seu adversário (no bom sentido…), com suas fantasias bem caprichadas, feitas com primor por quem entendia de costura e arremates.

Aquele local servia também para a realização de receber autoridades constituídas, como candidatos que estavam a disputar as eleições estaduais, tanto para governador bem como para deputados e senadores. Já as eleições municipais, a coisa ‘pegava fogo’, o qual se alastrava pelos quatro cantos da cidade. O coreto da banda servia para que os homens da política estivessem em cima para pronunciar suas palavras em torno de como seria seu governo em benefício do povo, o mesmo povo de sempre, sacrificando, mal visto, mal remunerado, que acreditando nas lábias dos candidatos, neles votavam para que cumprissem suas promessas, a maioria nem sempre saldada.

Jamais podemos esquecer das grandiosas festas religiosas que eram organizadas pela igreja católica, ou seja, pela Matriz Nossa senhora da Penha, nossa excelsa padroeira, cuja festa em tempos de outrora era celebrada no dia 8 de dezembro, para depois então passar a ser no dia 8 de setembro. Grande multidão tomava conta do local, quando as bem organizadas procissões eram realizadas, ainda mais da padroeira, bem como da Semana Santa, com a da sexta-feira santa e do domingo de Páscoa. Elas percorriam as ruas da nossa cidade indo finalizar na praça, quando oradores famosos pronunciavam os encerramentos, conclamando o povo fiel para que continuassem a frequentar a igreja e continuar recebendo as bençãos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Outra festa que arregimentava muitos devotos e a população itapirense, era a festa de São Sebastião, comemorada no dia 20 de janeiro, dedicado ao santo que foi morto a flechadas por não querer abandonar sua religião cristã. Durante a novena ao santo, a barraca do leilão armada ao lado de cima da igreja, aquela que foi construída pelos idos de 1850 e infelizmente demolida em 1955, dando lugar a atual, estava recheada de prendas como doces, bolos, cartuchos de doces, pratos de salgados, feixes de cana, cachos de bananas, sacaras de café, arroz, feijão, frangos e galinhas, patos e marrecos, leitões e cabritos. Tudo era leiloado pelo leiloeiro, o saudoso Raul Arruda (pai do dr. Murillo, Mauro e Sebastiana). Os interessados iam dando os lances e ao atingir uma cifra satisfatória, batia-se o martelo, indicando quem era o arrematador da prenda.

Mas tinha também o leilão de garrotes, o qual era realizado num domingo antes da festa, lá no bairro dos Prados, na Chácara Felicidade, do senhor Eliel do Espírito Santo e Silva. O leilão do gado era muito aguardado, ainda mais pelos sitiantes e fazendeiros que queriam arrematar lotes de gado de pasto, já que o gado de corte era arrematado pelos açougueiros da cidade. Marcou época o leilão de gado realizado no bairro dos Prados, nas terras do ‘seo’ Eliel, e a renda revertida para a igreja Matriz da Penha.

…E a Banda Lira continuava sua retreta, com seus músicos bem afinados e frequentes nos ensaios e nas participações em muitos festejos da cidade. A Lira também participava das procissões e da festa de São Benedito, bem como em enterros, quando tocava a marcha fúnebre. Ela também animava as partidas futebolísticas no campo de futebol e nos comícios também.

O relógio da Matriz da Penha estava marcando 21 horas, casalzinho de namorados começavam a sair e tomar ruma de suas casas. A banda arrefecia seu batuque. O cinema terminava a primeira sessão e a segunda teria início, repetindo o mesmo filme. O bar Central se agigantava em poder servir água Boa Vista geladinha, servida em copos de vidros, os americanos. O pipoqueiro continuava a estourar pipocas e vendê-las aos consumidores, ainda mais para as crianças, se bem que jovens e adultos se apetciam com aquelas delícias salgadinhas e com os cartuchinhos de amendoim. As famílias seguiam para suas casas, deixando o largo em pouco tempo vazio. Restavam apenas os clubes, e os bares. A igreja já tinha cerrado suas portas.

…Os namoradinhos seguiam para ruas diferentes, levando aquela que poderia ser sua namorada e depois a noiva e finalmente a esposa tão querida…

…Mas a agitação não demorava e quando o final de semana estivesse apontando no calendário, tudo voltava a ser como antes e a continuação do largo, as voltas, os bares, o cinema, os clubes, a igreja, tudo estaria na alma do nosso povo, de nossa gente, tradicionalista e bairrista…

…Amigo ou amiga: poderá ser que você foi daquele tempo e participou da igreja, do Largo da Matriz, do cinema, do Centrão, do Clube XV de Novembro e ainda conserva no mais fundo do coração aqueles saudosos momentos que não voltarão nunca mais, mas que é grato e benéfico de ser lembrado. Quem sabe você ou o senhor, você ou a senhora, não fez parte daqueles momentos tão agradáveis em torno do antigo Largo da Matriz?… Se foi um deles ou uma delas, aceite nossos parabéns e que a memória continue a guardar verdadeiras preciosidades em forma das mais saudosas lembranças…[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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